Seções

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Teste


“Meia-noite em Paris” no feriadão. Assisti ao filme de Woody Allen do jeito que eu gosto: nem muito cedo nem muito tarde, ou seja, entre a euforia do lançamento e a exibição na TV aberta.

Frescura? Esquisitice? Ora, tenho as minhas razões, que não explicarei aqui. Uma crônica é muito curta. Deve, o cronista, confiar na capacidade do leitor de reconhecer e decifrar o significado de pressupostos e subentendidos.

Aliás, Allen é useiro e vezeiro desse tipo de pacto de confiança. Desde os anos de 1970, ele produz comédias que, de tão inteligentes, algumas pessoas consideram cheias de um hermetismo irritante. Conheci um sujeito assim. Odiava tanto os filmes de Allen quanto mantinha distância dos livros. Um coitado aquele meu “amigo”. Por quê?! Ora, quem não lê enxerga o mundo através de uma janela emperrada.

Uma fresta, não há dúvida, é um espaço muito exíguo para que se compreenda Woody Allen. O autor abusa dos diálogos e das referências pseudopsicanalíticas e, assim, analisa a ascensão e a queda do império yupie bem como o seu impacto no pensamento nova-iorquino. Seus melhores filmes, a meu ver, são aqueles que a autobiografia e a cultura judaica se engalfinham sob a Ponte do Brooklyn, seja nos anos de 1970, 1980 ou 1920. Allen, sobretudo, é um cineasta que usa a História para fazer graça e por à mostra os excrementos individuais e sociais. Muito natural que inteligências rasas acusem-no de hermetismo.

Recentemente, contudo, Allen começou a plantar um jardim ao redor do seu imponente Farol de Alexandria. Um jardim para contentar observadores limitados.

A partir de “Match Point”, o autor-diretor emprega uma contensão, digamos, hemingwayana, em suas narrativas. Pressupostos e subentendidos, agora, olham de dentro para dentro e isto confere uma guarnição explicativa ao vertiginoso farol cultural de Allen. O filme que eu assisti na Semana Santa é uma homenagem a este modo, digamos, um pouco mais didático de contar histórias.

“Meia-noite em Paris” é conciso e verdadeiro. Seus devaneios à “De volta para o futuro” se resolvem perfeitamente no final: ora, são devaneios que a nostalgia criou, cria e sempre criará nas mentes das pessoas sensíveis que viveram, vivem e viverão neste mundo. Na única cena descaradamente cômica, descobrimos que o sonho de um detetive parisiense pode muito bem ser uma vida na corte do Rei Luís XV. Há muita poesia e verdade neste filme maduro de Allen, que é menos a respeito da Paris dos loucos anos 20, com Zelda, Scott e ragtime, e muito - muito mais -, um filme sobre as ilusões que os humanos temos em relação à implacabilidade do tempo.

Quem leu e gostou: